22/11/2007

Há dias em que se sente tarde

"Que silêncio tão grande. No interior do silêncio mais silêncio e no interior do mais silêncio um relógio minúsculo a anunciar:


- Já é tarde (...)


Nada nos ajuda, é tarde, tentamos conversar e é tarde, fazemos amor e é tarde apesar de termos feito amor na esperança que não seja tarde e depois, em lugar do prazer, ou misturado com o prazer, ou mais forte que o prazer, uma espécie de amargura que persiste, se não dilui, persiste, o


- E agora?


sem resposta aumenta um


- E agora?


imenso, que horror, um


- E agora?


que nos preenche inteiros, se nos pegassem ao colo, fugissem connosco, nos garantissem


- Não é tarde ainda..."




António Lobo Antunes




E quando se sente tarde, paramos o relógio. Na esperança que o tempo deixe de doer na pele que mescla a noite e o dia, na esperança que ele só se conte quando vale a pena. Na esperança de que possamos conversar sem que seja tarde e que ao fazer amor haja prazer. (...) Parece que me esqueci que o verdadeiro prazer carece e implora dor marginal.

Rat race: Pretérito imperfeito a correr atrás do Mais-que-perfeito. A vida faz-se no Presente do Indicativo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Perfeito