"Que silêncio tão grande. No interior do silêncio mais silêncio e no interior do mais silêncio um relógio minúsculo a anunciar:
- Já é tarde (...)
Nada nos ajuda, é tarde, tentamos conversar e é tarde, fazemos amor e é tarde apesar de termos feito amor na esperança que não seja tarde e depois, em lugar do prazer, ou misturado com o prazer, ou mais forte que o prazer, uma espécie de amargura que persiste, se não dilui, persiste, o
- E agora?
sem resposta aumenta um
- E agora?
imenso, que horror, um
- E agora?
que nos preenche inteiros, se nos pegassem ao colo, fugissem connosco, nos garantissem
- Não é tarde ainda..."
António Lobo Antunes
E quando se sente tarde, paramos o relógio. Na esperança que o tempo deixe de doer na pele que mescla a noite e o dia, na esperança que ele só se conte quando vale a pena. Na esperança de que possamos conversar sem que seja tarde e que ao fazer amor haja prazer. (...) Parece que me esqueci que o verdadeiro prazer carece e implora dor marginal.
Rat race: Pretérito imperfeito a correr atrás do Mais-que-perfeito. A vida faz-se no Presente do Indicativo.
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Perfeito
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