29/10/2007

O balanço... com destinatários

Este blogue surgiu numa tentativa de suspiro em palavras, num momento em que trabalhava horas a fio em frente a um computador, e em que me libertava nas noites frias de verão, entre jantares, passeios na praia, jogatinas de Uno, filmes, uma ou outra hora de trabalho roubado para o sol e uns cafés, uns minutos de paz de final de dia, em corridas contra o tempo, num pedalar sem destino, num agosto que sempre tive feliz. Foi uma agosto de transição, tal como tu me disseste naquele dia que jamais hei-de esquecer... em que nível estou eu agora?
O "ano" que passou teve tanto de bom como de péssimo. Tive de deixar para trás muita coisa que me fez falta, passei a partilhar conversas maternalistas à hora de almoço, tornei-me totalmente dependente desta máquina, atrofiei horas na biblioteca, acordava de noite e saía do trabalho já noite cerrada, sentia um cansaço desmoralizador, senti-me sufocada por tudo e por nada, não vivi como sempre fora meu apanágio, fechei-me muitas vezes em mim, nos momentos em que mais precisava de falar... perdi-te avô... fui forçada a aprender muita coisa do zero em tempo record, ganhei fascínio por águas e laboratórios, partilhei a dor de muitos, vi o fim da linha num hospital psiquiátrico, envolvi-me e entreguei-me demais aos problemas dos outros, esquecendo-me dos meus, recusando-me a vê-los... Por tudo isto, ganhei... e perdi. Perdi muito mais do que aquilo que achava possível. E perdi quando mais precisava de ter. Cresci como nunca antes havia crescido, em tão pouco tempo. Não foi um martírio, mas teve os seus momentos... Teve também aqueles que jamais poderei esquecer... aqueles em que me senti uma adolescente insegura, aqueles em que te amei o olhar e o silêncio, a "última" queima, derradeira morte súbita numa só semana, os dias especiais de reencontros, umas quantas noites a que chamo de brutais, translações sobre mim própria... prazer...
Sempre soube que iria conseguir a dita transição. Já transitei. Ciente do que quero, ciente das dificuldades, porque o mundo não é utópico. Ciente de que já muito me foi dado sem pedir, mas que muito do que quero não está ao alcance do nada.
Agora sinto o zéfiro, a paz temporária. Por tudo o que passei durante este ano, mereço o que hoje ganhei. Sinto dor e prazer. Não há melhor do que esta combinação. O prazer é sempre potenciado por uma dor marginal.
Foi quase uma confissão sem verdades.

1 comentário:

Francisco Melo disse...

Olá. Estava a ler o início do post, com considerações sobre o blog e pensei "fixe! já é altura de dizer umas coisas" mas acabando por não ter sido bem esse o objectivo do texto, e mesmo que algumas coisas me tenham passado ao lado, aproveito para dar os parabéns porque aqui escreve-se muito bem, ao contrário doutras vizinhanças que se tentam esmerar com nacos de prosa, lol...Ah, e já agora, parabéns pelo curso! Espero em breve uma introdução à roda dos alimentos (daqueles cursos rápidos) que o 6º ano de ciências já vai pras calendas fenícias....